Mercado externo como saídaPublicado em 04/05/2017 O câmbio menos competitivo e a perda de rentabilidade não
reduziram o apetite das empresas brasileiras por mercados internacionais, num
contexto em que as exportações se tornaram a porta de saída da crise. Segundo
dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o número
de companhias exportadoras do País, que já tinha sido recorde em 2016, continua
em alta neste ano. Só no mês de março, 12,2 mil empresas exportaram seus
produtos ao exterior, na maior marca mensal de uma série iniciada em janeiro de
2015. Levantamentos anteriores, que consolidam resultados anuais, já mostravam
que o número vem subindo desde 2013 e, não por acaso, ganhando corpo à medida
que a recessão econômica se agravava. Com a crise, as empresas tiveram de buscar mercados no
exterior para, de um lado, diminuir a ociosidade das linhas de produção e, de
outro, escoar estoques não consumidos por clientes nacionais. Hoje, porém, o comércio exterior não oferece o mesmo
rendimento de quando novatos nesse ramo – a maioria, pequenas empresas, com
exportações inferiores a US$ 1 milhão – decidiram explorar rotas
internacionais. De acordo com a Funcex – instituição que, mensalmente, calcula
um índice de quanto diversos setores lucram a mais ou a menos com vendas ao
exterior –, a rentabilidade das exportações brasileiras caiu 10,2% no acumulado
de 12 meses até fevereiro, se comparada a igual período do ano anterior. Com
alta de 5% da rentabilidade, a mineração de metais, favorecida pela forte
valorização do minério de ferro, é exceção entre 29 atividades monitoradas no
período. A apreciação do real, que reduz o montante obtido em
moeda nacional com as exportações, mais o avanço de 6% do custo de produção,
corroeu a recuperação de preço dos produtos exportados. Tendo como base os dados da Funcex – ajustados a valores
de janeiro de 1985 para obter índices comparáveis numa série de 32 anos –, Luís
Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimentos, diz que a rentabilidade
dos exportadores brasileiros está no segundo pior momento em mais de três
décadas. “Só no começo desta década, estava mais baixa do que agora.” Conquista. Ainda assim, as empresas não deixam de
exportar porque, segundo dizem analistas, o mercado doméstico segue fraco e,
num quadro de recuperação econômica lenta, a ocupação das linhas de produção
continua muitas vezes dependente das encomendas vindas do exterior. Da mesma
forma, as empresas não querem abandonar mercados internacionais conquistados a
duras penas. “Conquistar clientes estrangeiros é difícil, perder é
fácil e reconquistar é muito mais árduo e custoso, ainda mais quando se tem
pela frente chineses com preços competitivos”, diz José Augusto de Castro,
presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que
congrega empresas exportadoras e importadoras. Puxada pela valorização das matérias-primas e pela
supersafra de grãos, o surpreendente superávit comercial dos primeiros meses do
ano já fez o mercado financeiro revisar de US$ 48,1 bilhões para US$ 53
bilhões, nas últimas cinco semanas, a previsão ao saldo da balança deste ano. Fator de risco. O cenário favorável para as exportações
tem pelo menos dois sinais amarelos, segundo especialistas. O primeiro é o
risco de correção de excessos nos preços das commodities – em especial do
minério de ferro e da soja. Eles também levam em conta o impacto da
desaceleração da economia chinesa, destino, se somados Hong Kong e Macau, de
praticamente um quarto das exportações brasileiras no primeiro trimestre. Em paralelo, com o dólar negociado numa média inferior a
R$ 3,20 desde o início do ano, o câmbio reduziu a competitividade dos produtos
manufaturados em mercados internacionais. Há algumas semanas, a consultoria
britânica Capital Economics divulgou relatório no qual avalia que a apreciação
do real não só pode frustrar um crescimento mais consistente das exportações
como também colocar em risco a retomada econômica. Nada que impeça o primeiro desempenho positivo das
exportações após cinco anos. Mas, para parte do mercado, o ritmo de crescimento
dificilmente seguirá nos 24% mostrados no primeiro trimestre. Para a AEB e a
consultoria Rosenberg, a tendência é que o avanço das exportações seja moderado
para 10% e 15%, respectivamente. Fonte: Estadão |
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