Contra crise, G20 prioriza ação a reforma do sistema
Publicado em 11/08/2011 O
G20, o clube de países que somam cerca de 85% da economia mundial,
constatou, em sua reunião em São Paulo, que o risco de recessão é bem
maior que o de inflação, do que decorre a determinação de "tomar todas
as medidas necessária para estimular o crescimento não-inflacionário"-
ou, na prática, reduzir os juros e adotar pacotes de estímulo fiscal.
O
ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, presidente de turno do
G20, aceita a recomendação e aproveita-a para fazer publicamente o
máximo de pressão que se pode permitir em público sobre o Banco Central
para reduzir os juros. "A perspectiva é de queda da demanda; logo, a
preocupação com a inflação cede lugar a outras preocupações", disse
ontem o ministro, na entrevista de encerramento do G20. Emendou
sutilmente: "As autoridades monetárias saberão adequar-se ao novo
cenário".
O México, um dos poucos países, como o Brasil, que não
reduziu os juros nos meses de crise, já antecipou que vai fazer a
adequação sugerida por Mantega: diante da queda de preços de alimentos
e commodities, seu vice-ministro de Finanças, Alejandro Werner, diz que
há margem para cortar juros. "Os juros que temos agora não mais mais
necessários", disse Werner à margem do encontro do G20. A China, por
sua vez, antecipou-se à recomendação de "tomar todas as medidas" para o
crescimento: anunciou um pacote de estímulo espetacular pelos números
(US$ 586 bilhões, mais ou menos meio Brasil), até 2010.
Mas a
recomendação do G20 é matizada: não se trata de uma espécie de PAC
global (Programa de Aceleração do Crescimento) e, sim, de ações
"consistentes com as circunstâncias [de cada país]".
Traduzindo:
países que tenham bom resultado fiscal (receitas menos despesas) devem
usar o espaço para estimular o crescimento. Quem tem déficit fica mais
limitado.
O Brasil, que tem saldo, não vê, no entanto, necessidade
de aplicar agora algo parecido ao que anunciaram os chineses. "Não
temos uma queda de atividade que nos leve a isso", diz Mantega.
O
fato de o G20 ter recomendado medidas para incentivar o crescimento
revela que as autoridades financeiras continuam mais preocupadas em
atuar como bombeiros, atacando os diferentes focos de crise, do que em
pensar no futuro, na reforma da arquitetura financeira internacional
-que deveria ser o principal objetivo da reunião em São Paulo.
É
natural que seja assim porque os ministros e presidentes de bancos
centrais verificaram que todos os colossais pacotes de suporte a bancos
e instituições financeiras ainda não foram capazes de restabelecer o
fluxo de crédito para a economia. Nem mesmo entre os bancos voltou-se à
normalidade.
Se não se sentem seguros para emprestar entre si, os
bancos mais ainda hesitarão em financiar os demais setores da economia.
Conseqüência inescapável: "Já há uma certa recomposição da liquidez
internacional, mas embrionária e insuficiente para recompor o nível de
atividade", afirmou o ministro Mantega.
Nesse cenário, acaba sendo
normal que a discussão sobre a reforma do sistema financeiro
internacional fique limitada mesmo para a cúpula da semana que vem em
Washington. Ela não irá além de determinar uma agenda e um cronograma
para as reformas. Explica Mantega: "A crise não pode esperar a reforma
do sistema. É preciso trocar a roda do carro com ele em movimento".
Contra crise, G20 prioriza ação a reforma do sistema
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